segunda-feira, 27 de maio de 2013

Saudades



Cartas brancas lanço ao mar
Como quem pede tréguas ao destino,
Lanço mágoas e dores que quero silenciar,
Peço mapas, bússolas e um novo caminho.
Neste país onde ter sonhos é ser louco
Eu volto e peço um desejo na estrela cadente
São sonhos que de nada têm pouco
São sonhos caldos por gente dormente

Construo castelos na areia,
Que são levados pela corrente
Estou farta desta gente feia
Que não fala verdade só mente.
Gente crente, delinquente, abstinente,
Benevolente, obediente e demente.
Gente de falsas promessas, de falsas conversas.

Tenho sonhos guardados em bancos hipotecados,
Em vendas paradas em todos os mercados,
Não temos dinheiro no bolso
E ainda nos chamam afortunados.
“Vai-te embora” dizem todos de boca cheia
Vai viver a vida para cidade alheia.
Mas não vou, eu tenho direitos, eu tenho vontades
Eu tenho estudos e eu tenho saudades!

Eu tenho saudades…

Ana Rego*

Dezoito.





Hoje escrevo aquilo que não te soube contar
Conto contos acrescento pontos tudo para te negar
Que tu sabes, que eu sei que tudo existiu
Entre trilhos e caminhos enquanto a vida fluiu,
Ou ruiu, quando te vesti o corpo com o meu gosto
Buscava-te em vão nas personagens sem rosto
E entre, tempestades e naufrágios aposto
Que já sabias que eu estava ali,
Já sabias que eu me perdi quando te vi.
Que os meus olhos brilharam com a luz dos teus
Com a luz dos meus, com a luz dos céus.
E sorriste, como quem sabe que ganhou o jogo
E eu perdi o folgo e perdi o sono, não te resisto
Mas insisto que não és homem pra mim,
Não és tão bom assim!
Mas minto, porque sinto que perdi a jogada,
Que desisti do jogo porque quero ser amada.
Porque quero ser amada.

“18 segundos” e comemos do mesmo prato,
“18 segundos” e selamos sinceridade num pacto,
18 era número que eu não queria contar,
Foram precisos 18 segundos para eu ficar sem ar,
Para voltar a respirar, para voltar a acreditar.
Mas, não há finais felizes em tão pouco tempo,
Não era o momento, não havia o sentimento,
Somos preto e branco e não existe o cinzento.
Guardo-te, no sal dos meus olhos,
No verde dos teus olhos
E nos olhos de quem te souber guardar.
 
Ana Rego*

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Eternos pés descalços



Não tens amor guardado no peito, só pequenas dores que te vão levando a jeito. Amor tens na cabeça, quando pensas e sentes saudades, quando desesperas ou imaginas outras verdades.
Não sabes onde se guarda o amor, mas na cabeça não deve ser com certeza, pois toda essa dureza, de pensar e sentir com palavras é demasiado amarga.
Um dia vais transbordar de amor e vais deitar este fora, porque a cada hora, morre um pouco de ti, e essa pequenez vai embora.
Mas não te desesperes com estas palavras, são curtas e parvas, como tu que não o soubeste guardar no lugar certo, não o trouxeste para mais perto. Deixaste-o na cabeça a pensar que saberia encontrar o lugar sozinho mas enganou-se no caminho e já não soube voltar.
Pobre rapariga, apetece-me abraçar-te de tão inocente que és, enquanto não cresceres não ponhas sapatos nos pés e aproveita para correr na rua, pisa a relva que ela é tua, como não foi esse amor.
E no fim guarda este texto, para que um dia te lembres do contexto e ainda do seu desfecho …De um amor que achavas não ter fim.
 

Ana Rego*

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Halibut para o coração





(...)

- Apaga esse fósforo antes que queimes os dedos. 
 
Mal sabia ele que eu segurava o fósforo com o coração e que aquela chama era ele.

Ana Rego* 

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Lágrimas acumuladas tapam meus olhos parados,
Sentada na berma da estrada prendo os cabelos molhados,
O pensamento arrepia, como a chuva me pesa,
Vejo o teu reflexo e desejo sentar-me à tua mesa,
Baralha lá as cartas e vira o teu grande jogo,
Pega nos teus trunfos e alinha bem o diálogo,
Puxa para a mesa o teu ansiado monólogo,
O quanto me queres, o quanto te sentes,
A mesma conversa e o quanto me mentes.

Sou eu, és tu, é o mundo e o segundo
É o tio e a tia o poeta e o mundo
É o sol que não resolveu nascer
E a chuva que não resolveu descer
É o mundo que conspira contra ti
E os sacrifícios que eu não vi
São todas as desculpas do abecedário
E poucas respostas no dicionário

Antigas ilusões que já nasceram desiludidas
Sonhos arrumados e algumas taras perdidas
Viagens em sintonia que travamos em pensamento
Pequenas alegrias que não passaram do momento
Conspirações e produções cinematográficas
Suspeitas irreais em dimensões neoplásicas
Nada de novo em cada volta em cada esquina
Um grande caminho que já perdeu a adrenalina
Mais uma volta e uma dose de morfina.
Ana Rego*

domingo, 14 de abril de 2013

Ilusões e um copo cheio



Alguém dizia:
- Não se pode encher um copo que já está cheio.
E eu perguntei nos limites da minha ingenuidade:
-  Será possível encher um copo que está cheio de vazio? 
Alguém responde:
- O teu copo não está cheio de vazio... está é cheio de ilusões! Queres continuar a enche-lo?


Ana Rego*